Lesões esportivas: o que são e por que ocorrem

Dr. Carlos Mattos – Lesão esportiva é o termo que abrange qualquer lesão relacionada ao ato esportivo. As lesões esportivas podem ser divididas entre aquelas passíveis de serem evitadas e aquelas que não dá para prever, pois são inerentes ao esporte.

Há um senso comum que acredita que alguns esportes machucam mais do que outros. Porém, ao analisarmos trabalhos e estatísticas, teremos algumas surpresas. Por exemplo, as pessoas acham que esportes de luta causam mais lesão do que futebol, porque são modalidades feitas para machucar. Mas os estudos mostram que os esportes de luta causam lesões mais leves, como contusões e hematomas, enquanto no futebol ocorre muito mais lesão cirúrgica, de joelho principalmente. Opero muito mais atleta do futebol do que de lutas.

O que explica o futebol romper muito mais um ligamento de joelho do que uma luta, onde os praticantes estão lutando e dão até chave de joelho no oponente? São o preparo do atleta e o foco do esporte, o chamado gesto esportivo. O gesto esportivo do futebol é o atleta correr, olhando para a bola, para os adversários, para os companheiros de time, ou seja, ele não tem um treinamento para escapar de um chute no joelho. Então quando ele toma uma entrada, para a qual não estava preparado, pode ter uma lesão até grave. Já o atleta de luta está olhando para o adversário e ele sabe que o adversário vai entrar na perna dele, ou seja, ele está treinado para isso, é o gesto esportivo da luta. O objetivo é se livrar do golpe, de lesões, pois ele sabe o que fazer.

Isso faz com que os esportes sejam bem específicos em relação às lesões. Por isso são importantes o treinamento preventivo e as avaliações antes de começar um esporte e periódicas para ver como andam a massa muscular, a parte cardiológica etc. Às vezes, a pessoa faz um esporte e não está tão adaptada a ele. Por exemplo, os fortalecimentos e alongamentos de um corredor e de um nadador têm de ser diferentes. E a gente sabe que, além do esporte que pratica, se o atleta fizer uma complementação com musculação e/ou exercício funcional voltada ao seu esporte terá menos lesão.

Todos os atletas hoje em dia, sejam de futebol, vôlei, natação etc têm dias específicos para musculação, exercícios na piscina, isso para melhorar a condição muscular e prevenir lesões.

Quanto às lesões esportivas propriamente ditas, podemos dividir em dois grandes grupos:

1 – Lesões por excesso de treinamento e sobrecarga ou overuse, que ocorrem por treinar e praticar demais e a estrutura anatômica não aguentar.

2 – Lesões traumáticas, que ocorrem quando o atleta, embora bem treinando e bem preparado, está jogando futebol, pisa num buraco e torce o tornozelo, isso é inerente ao esporte.

Não há como prevenir todas as lesões esportivas e quanto mais o indivíduo treina e compete mais chance de lesionar, ainda mais em esporte de contato.

As lesões por overuse ou por sobrecarga muitas vezes podem ser evitadas. O esporte dói, como dizia o ex-jogador de basquete Oscar, o Mão Santa. Sim, o esporte dói porque o atleta de alto nível passa de seus limites a todo momento. Quem faz esporte sabe que uma hora vai doer. A dor muscular após a atividade passa rápido, porque é uma dor muscular tardia, geralmente entre 48 horas e 72 horas passa.

Já naqueles casos de dor constante, no mesmo ponto por mais de duas semanas, é preciso investigar, porque as lesões começam a evoluir, incomodar. Por exemplo, existe uma lesão chamada lesão por estresse, que é quando o atleta começa a ter muito impacto no osso e o osso não está preparado porque está começando no esporte, ou mesmo para quem está preparado e passou do seu limite.

É como alguém que está sedentário com sobrepeso e resolve correr e aí vai ter uma fratura por estresse porque não está preparado. Ou um que corre 5 km e de repente resolve fazer uma prova de 10 km. Ele vai ter dor, uma dor que não some, porque está lá uma microfratura em seu osso.

As tendinites também são assim: começam com uma inflamação aguda, depois começam a ficar com dor no repouso, em seguida evolui e o atleta não consegue terminar uma atividade física, porque passa a doer no dia seguinte até que fica constante. Para chegar a esse ponto existe uma evolução. Portanto, pode se evitar, pois a maioria das lesões são detectáveis, então é possível começar a tratar no começo, evitando a evolução, pois uma lesão crônica é sempre mais difícil de tratar.

Quanto às lesões traumáticas, existem as mais comuns em cada esporte. Jogadores de futebol têm bastante lesão de tornozelo; jogadores de vôlei que saltam muito têm muita lesão de joelho na região patelar, o que chamamos do joelho do saltador. Já nadadores têm muitos problemas de ombro, o chamado ombro do nadador.

Por isso, quando o atleta de determinado esporte chega ao consultório e narra os sintomas, a gente já sabe qual lesão pode ser e faz o diagnóstico mais preciso, a prevenção e o tratamento mais específicos e de forma mais rápida. Se é uma pessoa não praticante, a abordagem pode ser mais lenta, pedindo para parar por um período, já o atleta profissional e recreativo, muitas vezes, o tratamento cirúrgico por exemplo é indicado mais rapidamente.

Portanto, é preciso estar preparado para fazer um esporte de forma segura, sem lesões, e muita atenção aos sinais que o corpo dá quando algo não está bem e procurar um médico especialista.

Dr. Carlos Mattos é ortopedista, especialista em Cirurgia do Ombro e Lesões Esportivas, Chefe do Departamento de Ortopedia da PUC-Campinas e Diretor Clínico do Hospital PUC-Campinas