Overtraining: perigo em busca de alta performance

Dr. Carlos Mattos

Lesões agudas e crônicas, diminuição da performance, alteração da pressão arterial, irritabilidade, insônia e sistema hormonal em desequilíbrio são os principais sintomas do overtraining, síndrome que pode afetar praticantes de todas as modalidades esportivas, em especial corredores de média e longa distância.

O overtraining é um problema que ocorre quando o atleta faz mais exercícios do que seu corpo é capaz de aguentar e se recuperar, com o objetivo de melhorar o desempenho em treinamentos e provas, aliado na maioria das vezes a pouco ou nenhum descanso e a uma dieta restritiva. Ou seja, alto volume e intensidade de treino e pouco tempo de recuperação. Tudo isso resulta desde problemas musculares, articulares, imunológicos até psicológicos e por isso deve ser identificado rapidamente e tratado.

Precisamos deixar claro que existe diferença entre treino forte e overtraining. Treino forte é aquele em que o atleta se sente disposto e motivado para ir treinar, consegue fazer tudo o que foi proposto pelo treinador e depois que finaliza se sente bem. Já no overtraining, o atleta não sente vontade de treinar, o corpo reclama já no aquecimento e na maioria das vezes não chega nem a fazer a parte principal do treino.

Devemos também pontuar a diferença entre overtraining e overuse. Overuse significa uso exagerado e são lesões que ocorrem principalmente nas articulações devido ao excesso de uso pela alta carga, movimento biomecânico incorreto ou movimento muito acelerado, diferente do overtraining que atinge o atleta de forma sistemática.

O overtraining pode ser considerado leve, moderado ou severo, mas, independentemente do caso, a recomendação de tratamento é diminuir a carga de treino, podendo chegar até a interrupção da atividade por um período de tempo. É recomendado também passar com nutricionistas, ortopedistas e fisioterapeutas, pois em casos graves o overtraining pode provocar sequelas.

A prevenção deve se basear no conhecimento do próprio corpo, identificando as sensações que não são comuns, como preguiça, cansaço e exaustão. É importante também que o atleta tenha uma equipe interdisciplinar para realizar um planejamento adequado de treinos.

Dr. Carlos Mattos é ortopedista, especialista em Cirurgia do Ombro e Lesões Esportivas, Chefe do Departamento de Ortopedia da PUC-Campinas e Diretor Clínico do Hospital PUC-Campinas.