Lesões ortopédicas em crianças – “Criança não é um adulto pequeno”

Dr. Carlos Mattos – A estrutura óssea de uma criança é diferente da de um adulto. O osso de uma criança possui maior elasticidade e porosidade, além de haver maior presença de cartilagens de crescimento e de a membrana de tecido conectivo, que reveste o exterior dos ossos, ser mais resistente.

Mesmo assim, são frequentes nessa faixa etária as fraturas, que ocorrem principalmente no ambiente doméstico e escolar devido a acidentes como quedas. Há também um aumento da prática de esportes radicais por crianças. E as principais áreas afetadas são os membros superiores (clavícula, punho, antebraço e cotovelo).

Na criança, a fratura nem sempre está relacionada a um episódio brusco. Até casos mais simples, como um tropeço ou escorregão, podem gerar traumas e o diagnóstico para determinar o tipo da lesão, qual será o tratamento e o prognóstico em caso de fratura se difere de um adulto justamente porque as crianças estão em desenvolvimento, por isso a capacidade de seu corpo de formar, remodelar e desenvolver os ossos é superior.

Cuidados

Os primeiros cuidados em uma ocorrência com possível fratura é imobilizar o membro, na posição que ele se encontra, para diminuir o inchaço, a dor e evitar que a lesão aumente.

Em caso de haver também ferimento, higienize-o com água corrente ou soro fisiológico e cubra com material limpo. Se for o caso de sangramento abundante, faça pressão moderada na ferida.

Tratamentos

Existem algumas opções para se tratar uma fratura mediante sua gravidade. As fraturas sem desvio podem ser tratadas apenas com imobilização, e aquelas com desvio pequeno ou “aceitável” também podem ser tratadas apenas imobilizando, pois existe a remodelação óssea, possibilitando correção natural dos desvios, conforme as características do osso, idade e o local da fratura.

Outra opção é a redução, ou seja, a “colocação dos ossos no lugar”. Em casos de fraturas com desvio, pode ser necessária a redução. Pode ser feita sob anestesia geral, local ou regional. É importante ressaltar que a decisão de realizar ou não a redução na criança deve levar em consideração a idade e o grau do desvio.

Já em casos mais extremos, quando a imobilização gessada não é suficiente para posicionar adequadamente os fragmentos da fratura ou de uma fixação, pode-se realizar uma cirurgia, sendo comum o uso de pinos metálicos, normalmente retirados depois de consolidado. Em caso de lesão nas articulações, fraturas expostas ou ferimento da artéria também se faz necessário o procedimento cirúrgico.

Após os cuidados iniciais e o tratamento da fratura é imprescindível que se faça um acompanhamento com médico especializado. É importante certificar se houve a recuperação completa do movimento e da função; que o osso se mantém alinhado e, especialmente no caso de crianças, que o crescimento do osso não foi prejudicado.

Dr. Carlos Mattos é médico ortopedista, especialista em Cirurgia do Ombro e Lesões Esportivas, Chefe do Departamento de Ortopedia da PUC-Campinas e Diretor Clínico do Hospital PUC-Campinas.