Dr. Carlos Mattos – Andar de bicicleta é uma das atividades ao ar livre mais populares e um excelente modo de fazer exercícios e cuidar da saúde. Essa prática, entretanto, pode causar lesões agudas devido a quedas e acidentes e levar a lesões crônicas decorrentes da má seleção e da falta de ajuste da bicicleta.
No meu consultório, o número de pacientes ciclistas tem aumentado muito geralmente por causa das seguintes situações importantes relacionadas ao ciclismo:
1 – Quedas: as quedas durante o ciclismo, principalmente em trilhas, são frequentes, sendo as fraturas mais comuns as de clavícula e de punho.
Em casos de contusões na cabeça, mesmo sem perda de consciência, é indicado o atendimento médico emergencial.
Para amenizar consequências, o uso dos equipamentos de segurança durante a atividade é indispensável, assim como reduzir a velocidade em trechos com pedras, curvas e ladeiras.
2 – Dor lombar: é queixa comum entre os ciclistas e ocorre devido à curvatura da coluna sobre o guidão e grande tempo de permanência na mesma posição. Se o ajuste do guidão não for adequado, a situação pode se agravar, acarretando lesões como hérnias e fissuras de disco.
Ao andar de bicicleta, a postura exerce muita pressão sobre a coluna, e é provável sentir dores nas costas, sendo importante que a coluna esteja na posição correta em relação ao quadro da bicicleta. Em caso de dor no quadril, dor que irradia para a perna, procure um ortopedista.
3 – Síndrome do túnel do carpo: é uma situação comum em pessoas que fazem movimentos repetitivos das mãos, podendo também ser causada por fraturas ou doenças crônicas. Ela aparece pela compressão do nervo mediano, passa pelo punho e inerva a palma da mão. Os sintomas podem surgir em apenas uma ou nas duas mãos, e incluem: formigamento ou sensação de picadas na mão, inchaço nos dedos e/ou mão, dormência nos dedos, fraqueza e dificuldade para segurar objetos e dor no pulso, principalmente à noite.
4- Períneo: permanecer sentado por longos períodos pode ocasionar lesões neurológicas desse nervo, levando à perda de sensibilidade na região perineal, ou até mesmo à impotência sexual. Isso está relacionado ao tempo de atividade, estrutura do selim, postura e predisposição do praticante.
5- Dor no joelho
Síndrome da dor patelofemoral: dor profunda ao redor da rótula, podendo causar rigidez ao se levantar da posição sentada. Deve-se adequar a altura do selim e não colocar carga extra nos músculos. Alongamentos de quadril e joelho também podem ajudar a reduzir a tensão sobre a rótula.
Síndrome da banda iliotibial: dor concentrada na parte externa da rótula, às vezes acompanhada de sensação de aperto no quadril do mesmo lado. Adicionar exercícios de mobilidade e flexibilidade no pós-ciclismo pode ajudar a reduzir o acúmulo de tensão na parte externa do joelho.
Tendinite patelar: sensibilidade e dor sob a patela, na parte da frente da perna, sentidas após andar de bicicleta.
6- Dor no pescoço: é uma dor que começa na base do crânio e se estende das laterais do pescoço até os ombros. Para evitá-la, é importante escolher uma bicicleta que se ajuste ao corpo, mantendo a postura correta e relaxando na pegada no guidão. Alongamentos suaves do pescoço podem ajudar a soltá-lo e movê-lo com mais liberdade.
7 – Cãibras musculares: o quadríceps de um ciclista é muito utilizado e precisa de tempo para se recuperar. À medida que os músculos se cansam, o ácido lático se acumula, causando dor muscular.
Outras dicas para andar de bike sem dor
– Verifique se o ângulo do selim não está muito baixo ou inclinado para cima. O ajuste do ciclista é medido pela altura e também pelo comprimento do braço, da perna e do tronco. Seu estilo de pilotagem também determina a melhor forma de ajustar os componentes de sua bicicleta.
– Alongamentos da parte inferior das costas e do quadril podem aliviar a tensão nos músculos. O ortopedista pode indicar esses exercícios de alongamento para aliviar essa tensão e prevenir o problema.
– A postura adequada do ciclista na bike e alongamentos na mão podem evitar a síndrome do túnel do carpo.
– Exercícios de fortalecimento como musculação, funcional e pilates podem ajudar bastante na prevenção de lesões em ciclistas.
– É recomendável, também, não extrapolar seus limites para que a bike seja apenas uma atividade prazerosa e saudável.
Dr. Carlos Mattos é ortopedista, especialista em Cirurgia do Ombro e Lesões Esportivas, Chefe do Departamento de Ortopedia da PUC-Campinas e Diretor Clínico do Hospital PUC-Campinas.